O LIVREIRO

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Usinas trocam etanol pelo açucar

A alta nos preços do açúcar motivada pela queda na produção mundial está ajudando o setor sucroalcooleiro a escapar da crise. Nesta safra, pela primeira vez em quatro anos, as usinas estão reduzindo a produção de álcool e destinando mais cana para fazer açúcar. A boa cotação do produto brasileiro, que acumula alta de mais de 50% na atual safra em relação à anterior, vai garantir uma receita extra de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 4 bi) apenas com as exportações.

De acordo com Plínio Nastari, presidente da Datagro, uma das principais empresas de consultoria do setor, o Brasil vai exportar 20% mais de açúcar este ano, com um valor entre 15% e 20% maior que no ano passado. A receita deve subir de US$ 5,48 bi para US$ 7,57 bilhões. A produção brasileira, na safra atual em relação à anterior, subirá de 31,1 milhões de toneladas para 35,9 mi/ton, conforme a previsão da Datagro. Já as exportações crescem de 20,4 mi para 24,5 mi/ton.

Nastari conta que os preços reagiram à queda na produção nos principais mercados produtores. A Índia, que havia produzido 26,4 milhões de toneladas na safra 2007/08, produziu apenas 14,5 milhões na última safra. Como o ciclo produtivo da cana naquele país é muito curto - 18 meses, enquanto no Brasil chega a 72 meses - a elevação nos preços do trigo, milho e algodão levou muitos produtores a migrarem para essas culturas. A Índia consome 22,5 milhões de toneladas e foi obrigada a importar açúcar. Outros países estão com estoques baixos: o México reduziu a produção em 3,1 milhões de toneladas e a China, em 2,3 milhões.

No momento, segundo Nastari, o Brasil é o único país com crescimento significativo na produção e exportação de açúcar. "Mesmo assim, esse crescimento é insuficiente para fazer frente ao déficit mundial." Como as usinas brasileiras têm tecnologia para adaptar rapidamente seu mix, a produção foi ajustada para atender à maior demanda. Ele explica que a matéria-prima do açúcar e do álcool é a mesma: o caldo extraído da cana na moagem. A partir daí, a produção se diferencia por uma decisão da empresa que leva em conta o mercado. A produção de álcool, que em 2008 absorveu 60,4% da cana moída, este ano vai se limitar a 57,2% - o restante irá para o processo de cristalização.

"Os preços do açúcar vão se manter elevados porque o déficit mundial não será suprido rapidamente", prevê o presidente da Datagro.

É no que acredita também o vice-presidente comercial da Cosan S/A, Marcos Lutz. O maior grupo sucroalcooleiro do mundo direcionou 55% da sua produção para o açúcar. "O porcentual equivale à nossa capacidade máxima para esse produto", disse Lutz. Nesta safra, o grupo vai moer 56 milhões de toneladas de cana, 12 milhões a mais que na anterior. Tradicionalmente a Cosan é grande produtora de açúcar, mas em anos recentes, de olho no crescimento do mercado de etanol, a empresa ampliou a participação do álcool em seu mix.

A companhia produz 4,3 milhões de toneladas de açúcar e 2,2 bilhões de litros de álcool. Em Goiás, a Cosan tem uma planta exclusiva para etanol e a destilaria Gaza, em Andradina (SP) foi expandida para fabricar mais álcool. O problema é que, neste momento, o preço do álcool está muito baixo, segundo Lutz. "Está abaixo do custo de produção, por isso o açúcar é importante, pois equilibra a conta."

O bom preço dessa commodity, no entanto, não significa o fim da crise no setor, na opinião do executivo. "As destilarias que só produzem álcool estão em sérias dificuldades." As previsões da Datagro indicam uma redução nas exportações de álcool de 4,85 bilhões de litros para 4 bilhões. Entre as causas estão a queda na cotação do petróleo e as barreiras à exportação para os Estados Unidos.

Pode haver aumento moderado na produção apenas para atender o mercado interno. A médio prazo, segundo Nastari, deve haver uma convergência positiva de preços, com a redução na diferença de preços entre o açúcar e o álcool. Ele disse que o setor ainda vive uma ressaca dos últimos dois anos em crise, com o endividamento elevado e alta no custo de produção. "Mas o momento é de transição para melhor. As margens de ganho voltaram para o açúcar e devem voltar também para o álcool, possivelmente em agosto ou setembro deste ano." Ele compara a situação do setor a um avião em queda que se estabiliza e começa a retomar a ascendente. "Não dá para dizer que é tudo róseo, mas o pior já passou."

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