O LIVREIRO

sábado, 27 de fevereiro de 2010

NOTICIAS


Com relação à cana-de-açúcar, as intensas chuvas no mês de setembro, período tradicionalmente mais produtivo para a moagem, prejudicaram a produção de açúcar e etanol. A moagem na segunda quinzena de setembro foi de 29,89 milhões de toneladas, basicamente o mesmo volume esmagado na primeira quinzena, porém inferior em 11,06% ao volume esmagado na mesma quinzena da safra anterior, que foi de 33,61 milhões de toneladas. No acumulado até o final de setembro, o volume de cana processada foi de 377,5 milhões de toneladas, 7,7% superior aos 350,4 milhões na safra 2008/2009. Dos 30 dias disponíveis para moagem em setembro apenas 20 foram aproveitados. Quando observada a média histórica de 27 dias, conclui-se que somente nesse mês deixaram de serem processadas mais de 19 milhões de toneladas de cana. Estes números resultam de condições climáticas desfavoráveis à colheita da cana-de-açúcar na região Centro-Sul do país. Enquanto a precipitação pluviométrica mensal do mês de setembro nos últimos 40 anos foi de 65 mm, em setembro de 2009 o volume foi superior a 180 mm, quase três vezes a média histórica. Uma situação, aliás, que vem ocorrendo desde o mês de julho. Quanto à transformação da matéria-prima em produtos, que corresponde à obtenção de Açúcares Totais Recuperados por tonelada de cana processada (ATR), em setembro de 2009 foram obtidos 138,8 quilos, cifra 19 quilos abaixo da média das últimas quatro safras (157,8 quilos por tonelada). No período de abril a setembro de 2008 foram obtidos 140,1 quilos de ATR, enquanto nesse ano, também no mesmo período, o resultado é de apenas 132,2 quilos. Quando comparada apenas a segunda quinzena de setembro, o resultado é de 138,0 quilos nessa safra, contra 159,0 na mesma quinzena da safra anterior. Do total de cana processada, 43,7% foram destinados à produção de açúcar e 56,3% ao etanol. A produção ocorrida no mês de setembro já havia sido incorporada na revisão da safra, portanto sem motivos para alterar os números revistos para a safra 2009/2010 que foram divulgados no mês de setembro. A entidade continua com a previsão da produção de 29,3 milhões de toneladas de açúcar e de 23,7 bilhões de litros de etanol no ciclo 2009/2010.

O Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, anunciado pelo governo federal, proíbe o plantio de canaviais em dois biomas brasileiros: Amazônia e Pantanal. Não diz nada sobre o Cerrado, que já carrega nas costas o peso de metade do agronegócio brasileiro e agora terá de abrir espaço também para a produção de biocombustíveis. Um fardo e tanto para um bioma que já tem 52% de sua área ocupada, segundo dados inéditos da Universidade Federal de Goiás (UFG). A única região do Cerrado onde o plantio de cana foi vetado pelo zoneamento é a Bacia do Alto Paraguai - não por fazer parte do bioma, mas porque é onde nascem os rios que abastecem o Pantanal. A impressão é que foi uma decisão puramente política, segundo o diretor do Programa Cerrado-Pantanal da ONG Conservação Internacional, Mario Barroso. Ele aplaude a iniciativa do governo, mas cobra uma explicação técnica para as decisões. Segundo ele, o decreto parte do pressuposto de que na Amazônia, no Pantanal e no Alto Paraguai não pode plantar cana, mas não dá justificativa para isso. Sem esses critérios, ficará difícil defender o zoneamento de críticas de produtores e governadores infelizes com a exclusão de determinadas áreas. Já os ambientalistas ficam sem argumentos técnicos para exigir a inclusão de áreas semelhantes que estão fora desses biomas. O critério político do zoneamento fica claro na região central de Mato Grosso. Onde é Cerrado, pode plantar cana; onde é Amazônia, não - nem mesmo onde a floresta foi desmatada há muito tempo. Justamente no momento em que a velocidade do desmatamento no bioma parece estar arrefecendo - segundo os dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da UFG -, a expansão dos canaviais ameaça alterar significativamente a dinâmica de ocupação do Cerrado e de seus biomas vizinhos. O zoneamento restringe a plantação de cana em “áreas com cobertura vegetal nativa”, mas não deixa claro se produtores com autorização legal para desmatar serão impedidos de plantar canaviais. No Cerrado, o Código Florestal permite desmatar até 80% da propriedade. A estratégia do governo e da indústria para garantir o selo verde do etanol brasileiro é assegurar que a expansão da cana só ocorra sobre áreas já abertas, de pastagens degradas ou subutilizadas, sem competir com a produção de alimentos nem agredir o meio ambiente. Isso é certamente possível e desejável. A dúvida é se será colocado em prática. Segundo estudo ainda não publicado da Conservação Internacional, 60% da expansão da cana no Cerrado entre 2003 e 2008 ocorreu sobre áreas de produção agrícola, 33% sobre pastos e 4% sobre vegetação primária. As pastagens que estão sendo ocupadas não são degradadas, são altamente produtivas, segundo Barroso, um dos autores do estudo. A lucratividade da cana é tão grande, segundo ele, que está substituindo até mesmo a soja. Em outro estudo, feito antes do zoneamento, pesquisadores do Lapig estimaram em 89,5 mil km² a área viável para expansão da cana sobre o Cerrado, o que permitiria triplicar a área plantada com canaviais. O estudo considera questões ambientais e econômicas. Apesar disso, Nilson Ferreira, um dos autores, acredita que a maior parte da expansão da cana ocorrerá não sobre pastagens, mas sobre lavouras, onde o solo é mais fértil. A produção de grãos será impactada, sem dúvida. O espaço nobre do Cerrado já foi ocupado. Não há mais solos bons para onde essa agricultura possa ir com facilidade, segundo ele. No fim das contas, poderá sobrar também para a Amazônia. O zoneamento reforça o receio de que, ao ocupar áreas de agricultura e pecuária, a cana-de-açúcar empurre essas atividades para outras regiões. Principalmente para cima da floresta amazônica, onde a terra é barata e a chuva mantém as pastagens verdes o ano todo. A recuperação e a ocupação de pastagens degradadas, associadas ao sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), seria a melhor maneira de evitar essa migração. O problema é que ninguém sabe exatamente onde estão essas pastagens ou qual é a condição delas. “Degradada” é um termo genérico, usado para designar pastagens que estão produzindo abaixo da capacidade - o que pode incluir desde um campo invadido por ervas daninhas até as terras completamente esgotadas, sem fertilidade, onde o capim nem cresce mais. A única informação existente hoje sobre pastagens no Cerrado é onde elas estão. Não se sabe nada sobre sua condição, segundo Laerte Ferreira, diretor do Lapig. Um dos projetos em andamento no laboratório tem justamente como objetivo mapear e qualificar o estado dessas pastagens. Sem essa informação não há como planejar o uso dessas áreas adequadamente, segundo Ferreira. Para o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, o temor de que a cana venha destruir o Cerrado é infundado. Segundo ele, a cana só pode ser plantada em áreas já alteradas pelo homem. A cana é a primeira atividade que não poderá crescer desmatando. E isso vale para qualquer bioma.


No mercado de açúcar, os preços registram forte alta neste ciclo 2009/2010. Com valorização acumulada de 95,75% em 2009, sempre segundo o critério de preços médios mensais, a commodity segue sustentada pela menor oferta da Índia, segundo maior país produtos (atrás do Brasil), na temporada 2009/10. O ritmo da colheita de cana no Centro-Sul brasileiro, ainda lento, também oferece sustentação. Nas últimas semanas, a commodity rompeu a barreira dos 24 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, e a expectativa é que os 25 centavos de dólar por libra-peso também sejam superados nos próximos dias. Os preços do açúcar devem continuar sustentados em níveis historicamente altos em 2010 já que a Índia terá dificuldade em recuperar a produção doméstica. As cotações atingiram o maior nível em 28 anos. O déficit na produção mundial de açúcar vai diminuir para 8,1 milhões de toneladas de açúcar em 2010, contra os atuais 12,3 milhões de toneladas em 2009. Segundo relatório divulgado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a produção acumulada até a segunda quinzena de setembro é de 20,77 milhões de toneladas, 8,96% superior aos 19,06 milhões de toneladas, produzidos no mesmo período da safra passada. A entidade continua com a previsão da produção de 29,3 milhões de toneladas de açúcar.

No mercado de álcool, a tendência é de continuidade da alta dos preços. A previsão é de uma produção de 23,7 bilhões de litros de etanol no ciclo 2009/2010. No acumulado da safra (abril/setembro), o volume destinado ao mercado interno foi de 11,9 bilhões de litros, contra os 10,2 bilhões de litros destinados no mesmo período do ano anterior. Em relação ao mercado externo, o volume destinado no período de abril a setembro de 2009 foi de 2,1 bilhões de litros, 12,52% inferior ao apurado no mesmo período do ano passado (2,41 bilhões de litros). A maior redução nas exportações é do etanol anidro, de 58,03%, embora tenha ocorrido incremento nas exportações do etanol hidratado de 42,46%. Após mais de dois anos com preços não remuneradores para o produtor, a recuperação nos preços do etanol resulta de dois principais fatores: maior demanda em razão do crescimento da frota flex e da competitividade do etanol frente à gasolina; a redução da produção observadas as limitações de moagem ocorridas desde o mês de julho de 2009. Com 66% da safra 2009/2010 percorridos, o estoque de etanol acumulado pelas destilarias do Centro-Sul do Brasil durante o período de produção, entre abril e outubro, é de 2,414 bilhões de litros, 14,6% menor que acumulado em igual período da safra passada. No início de outubro de 2008, o volume atingia 2,829 bilhões de litros. No sentido inverso, a demanda pelo combustível cresceu 16,81%, se comparados os mesmos períodos, o correspondente a 1,713 bilhão de litros, de acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Como a oferta de etanol caiu 3,08%, de 16,9 bilhões de litros, para 16,4 bilhões de litros no período, ou 500 milhões de litros, o resultado natural foi a disparada nos preços do combustível renovável nas unidades produtoras, de quase 59% entre o início de abril e o início de outubro. O reajuste nas destilarias foi devidamente repassado aos postos e aos consumidores do etanol hidratado, cuja produção corresponde a 75% do total. Segundo a Unica, o cenário só não foi pior porque as exportações de álcool recuaram 28% entre abril e outubro de 2008 e de 2009, o que corresponde a um volume de 821,48 milhões de litros que, teoricamente, foi produzido para o mercado interno. Outro fator que evitou uma disparada ainda maior no preço do combustível foi o alto estoque de etanol no início da safra 2009/2010, de quase 2 bilhões de litros. Na prática, foi consumido o estoque do ano passado, porque a oferta do álcool caiu até agora. Na atual safra, ocorreu atraso na moagem da cana e na produção de álcool em virtude das chuvas constantes durante a colheita. É natural que o controle na demanda venha a ocorrer pelo consumidor de hidratado que possui um carro flex fuel. O preço do etanol hidratado aumentaria até se tornar inviável economicamente diante do da gasolina, o combustível de petróleo seria preferido na hora do abastecimento e a procura pelo álcool cairia. Isso mostra a falta de maturidade e de planejamento do produtor e do governo, que sabem que cana é agricultura e tem um risco e que deveriam avaliar antes de o problema ocorrer. O mercado do etanol será regulado pelo consumidor de flex fuel, dono de 36% da frota brasileira de veículos, e que optará por abastecer com gasolina quando o preço do álcool atingir 70% do valor do combustível de petróleo. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), no Estado de São Paulo, o preço do álcool ainda é de 55% do valor da gasolina. Esta competitividade do etanol em relação à gasolina está se mantendo em cerca de 17 estados brasileiros, mesmo com a alta do etanol. O consumidor que está preocupado com a relação energética e com o bolso vai migrar para a gasolina. Não deverá faltar combustível ao consumidor que optar por abastecer o seu carro com etanol a qualquer preço. Para esse consumidor não vai faltar etanol.


Fonte: Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica

Especial: Perspectivas para 2010

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